Vamos,
cometa bobagens! Seja idiota de vez em quando, oras. Não pense demais, quando
pensamos demais acabamos não fazendo, isso é fato... O que acontece
normalmente, com regras, tudo na reta, não é lembrado ‘daquela maneira’, se é
que me entendem, hein, hein. Ninguém lembra do que foi normal, não assim 100%,
pois toda ideia tem um quê de loucura, de limite ultrapassado, então lembramos
do porre, do fora, do desaforo, dos enganos, das inúmeras mentiras, tropeçadas
e naquelas cenas patéticas em que nos declaramos em público para um alguém que
te dá um chute na bunda, sem ao menos te conhecer, mas o que importa é que
depois você vai rir sozinho destes momentos bobinhos e que fazem a diferença, não é mesmo? Cometa bobagens!! Esqueça e ignore o silêncio. Abuse do poder da sua voz, não se importe se
está afinada, grite com toda a sua alma e sentirá uma leveza tão gostosa que
decidirá fazer esse exercício todos os dias. Quando sentir aquele chuvisco demita
o guarda-chuva, desafie a timidez, sempre ela quer te deixar ali de canto
caladinho, ou talvez seja questão de tempo. Converse mais do que o permitido, fale
pelos cotovelos, pelos músculos, pelos ossos, enfim, fale com os amigos num
boteco, numa lanchonete, na padaria, na escada, no churrasquinho dominical,
fale de você, das flores, das nuvens e quando as estrelas aparecerem conte-as,
assim como os carneirinhos, e sentirá o sono chegando, e seus sonhos te
alimentarão a noite inteira, e é nesse instante que o mundo real não conseguirá
te afetar... Mexa as chaves no bolso para despertar uma porta, algumas estarão
distantes, outras pequenas, estreitas e complicadas... Cometa bobagens! Seja idiota. Não compre
manual para criar os filhos, para aprender a arrumar a casa, como ser poderoso
ou como arrumar um namorado, aprenda tudo assim, com a vida, de repente, sem
atalhos para despistar os fantasmas ou os obstáculos, senão não terá graça,
porque será fácil e coisas fáceis são monótonas, as difíceis fazem você se entregar
com paixão e glória, te encorajam quando ninguém mais consegue, enfrentando
seus medos, seus espelhos, seu vazio...
o pai e a mãe |
Lipe na hora da soneca depois do banho |
Emi brincando no tambor d'água |
Não
existe manual que ensine a cometer bobagens, isto é certo, nem tente, não
encontrará, palavra de quem já pesquisou nos mais diversos sites e livrarias,
depois voltei a mim mesma e minhas próprias bobagens, para alguns sem nexo, mas
para mim um universo de diversas descobertas, onde senhas não dão o acesso aos
meus pensamentos... Não seja sério; a seriedade é duvidosa e te afasta das pessoas,
muitos a evitam, então seja alegre; a alegria é interrogativa e doce,
fantasiosa em alguns sentidos, quando damos um ‘sorriso Mona Lisa’, por
exemplo. Gargalhe, nada mais saudável... Grite para o vizinho que você não
suporta mais não ser incomodado, diga a ele que quer um pouco de café ou açúcar
emprestado e puxe qualquer assunto, para tentar uma aproximação, e o diálogo
irá guiá-los a uma bela amizade. Próton e Neutron. Yin e Yang. Deus e o Diabo. Use
roupas com alguma lembrança, querendo ou não todas carregam uma recordação,
umas mais fortes e intensas que as outras. Use a memória das roupas mais do que
as próprias roupas, viva intensamente, como se estivesse em um dejavú constante.
Desista da agenda, dos papéis amarelos, de qualquer informação que não seja um
bilhete de trem, uma passagem de avião ou o passe do ônibus, vá sem destino,
apenas se deixe levar. Procure falar o que não vem à cabeça, as palavras também
se perdem, deixe-as soltas por algumas horinhas, assim como um poema
neoconcreto, flutuando... Cantarolar uma música ainda sem letra. Deixe varrerem
seus pés, case sem namorar, namore sem casar, se preserve, assim como a
natureza, pense antes de sair multiplicando por aí... Sou boba, cheias de
histórias para contar. Leve uma árvore para passear, pegar uma brisa. Chore de
tanto rir nos filmes babacas, durma nos filmes sérios. Não espere as segundas
intenções para chegar às primeiras, trace logo um plano a, b, c, se possível,
pense no alfabeto inteiro, pois as pessoas costumam surpreender em todos os
sentidos. Não diga “eu sei, eu sei, eu sei, eu sei, eu sei”, quando nem ouviu
direito ou quando quer ser o mais orgulhoso do mundo. Seja humilde, fale e
deixe os outros falarem, isso fortalece os pensamentos e liga as palavras,
aquelas que estavam soltas, lembra? Almoce sozinho para sentir saudades do que
não foi servido em sua vida, aqueles momentos em que a família se reúne e
conversa sobre o dia-a-dia. Ligue sem motivo para os amigos, inocentemente, na
madrugada, não há quem seja independente, precisamos um do outro o tempo
inteiro, admita! Cometa bobagens!
Lipe |
Leia qualquer livro sem procurar
coerência, sem querer explicar, leia muitas vezes, umas cinco ainda não serão o
suficiente, sabia? Cada palavra precisa de atenção. Ame sem pedir contrato, sem
forçar a barra, sem ter que assinar um papel, sem esconder quem realmente é. Esqueça
de ser o que os outros esperam e exijam que você seja, cada um é cada um, pares
ou ímpares. Transforme um sapato em um barquinho, ponha-o na água com a sua
foto dentro, faça na piscina, na caixa d’água, na poça... Não arrume a casa na
segunda-feira, acumule energia. Não sofra com o fim do domingo, com tantas
greves todos os dias tem se tornado tardes de domingo. Alterne a respiração com
um beijo, mas deve ser da pessoa que você ama. Saia e volte tarde, deixe o
relógio em casa, saia da frente do computador e conheça o mundo pessoalmente. Fique
atento aos detalhes. Dispense o casaco para se gripar. Solte palavrão para
valorizar depois cada palavra de afeto, sentirá a diferença. Complique o que é
muito simples, permita-se esbanjar felicidade, viva ela, não fique tentando
entendê-la, senão passará despercebida. Conte uma piada sem rir antes, tente,
tente! Faça caras e bocas. Não chore para chantagear, é uma arma voltada para
sua própria cabeça. Cometa bobagens! Seja idiota! Ninguém lembra do que foi 100% normal. Que as suas lembranças
não sejam o que ficou por dizer, mas o que realizou de todo o coração, vivendo
como uma borboleta em metamorfose, em cores e situações desconhecidas.
É para você, Lipe, que eu escrevo, com toda minha alma e meu coração, e nunca será o suficiente! Amamos você!